terça-feira, 24 de julho de 2012

Marinha do Brasil Disputa a Posse da Terra dos Quilombolas na Bahia

Associação de Moradores Rio dos Macacos, em Simões Filho, Salvador (BA)


O MONER acompanha mais uma denúncia contra os quilombolas. Num desrespeito aos Direitos Humanos, a Marinha do Brasil trava conflito há quatro décadas com os quilombolas do Rio dos Macacos, de Simões Filho, na Bahia, que estão correndo risco de vida.

A Marinha do Brasil deflagrou nesta região uma guerra a um grupo de famílias negras descendentes de escravos que vivem ali desde antes da chegada da Marinha. Hoje, constituem mais de 50 famílias tituladas e reconhecidas como remanescentes de quilombo.

 “Era muito bom. Era muito bom isso aqui. Muita alegria. Muita alegria pra gente aqui. Todo mundo nasceu. Meus filhos nasceram e se criaram aqui.  Eu nasci e me criei aqui também. E por que eles tão com essa perseguição comigo? Pra me tirar duma terra que eu nasci e me criei. Pra ir pra debaixo da ponte? Aí depois dizem que nós quer invasão. Nós não somos invasor não, moço. Quando eles chegaram acharam a gente”, conta uma moradora do local.

Ela lembra, com uma voz sofrida, que os quilombolas trabalharam para a Marinha no começo, para depois sofrerem ameaças, despejos e, em outros casos relatados, espancamentos. Entre os moradores há pessoas com mais de 100 anos que nasceram no mesmo local, onde vivem até hoje.

Só que agora sob-regime de tensão e violência, aterrorizados: garantem que passam a noite acordados com medo de morrer – soldados passeiam à noite toda pelas suas roças – e têm medo de sair pois, quando voltar, poderão encontrar a casa derrubada.

O acesso à comunidade é controlado pelo portão de entrada da Vila Militar, um condomínio de residências de suboficiais da Marinha; e os conflitos vêm, sobretudo, com a construção desta Vila, a partir de 1971. As famílias da área foram removidas e desalojadas. Hoje estão proibidas de plantar e sendo expulsas da área.

Fato de desrespeito e de racismo também vem acontecendo com o Quilombo do Sacopã e a prefeitura do Rio, que disputa a terra dos quilombolas.

Uma das prioridades do MONER, em todo o Brasil, é a Titulação das Comunidades Quilombolas no Território Nacional. “O que tem caraterizado o Negro ex-escravo no Brasil e a resistência. E é essa resistência que nos dará a vitória, no caso das Comunidades Descendentes de Quilombolas”, Falou Nayt Junior, Presidente do MONER.
Quilombo do Sacopã, Rio de Janeiro

Prefeitura veta reconhecimento do Quilombo do Sacopã, como Área Especial de Interesse Cultural

De frente para a Lagoa Rodrigo de Freitas, com vistas para o Cristo Redentor, em ladeira nobre da zona sul do Rio de Janeiro (RJ), construiu-se uma das mais belas histórias de resistência negra no país.
Em meio a condomínios luxuosos e grades resistentes, sete famílias de descendentes de escravos lutam, há mais de 40 anos, pela posse das valiosas terras que habitam há pelo menos um século.

Neste ano, os protagonistas do primeiro e mais valioso quilombo urbano do país pareciam estar  próximos de ser oficialmente reconhecidos como donos de suas terras. Mas, a julgar pelo extenso histórico do cerco oferecido pela elite local, a conquista do título de “Área Especial de Interesse Cultural” foi  negada, definitivamente,  pela prefeitura do Rio.

A Lagoa é um dos mais nobres bairros do Rio de Janeiro, e a especulação imobiliária fez de tudo para expulsar os moradores indesejados. Nos anos de 1960, através da famosa secretária de habitação do governo Carlos Lacerda, Sandra Cavalcanti, removeu favelas e morros da região.

A alguns dos negros descendentes do quilombo, oferecia indenizações ou pequenas casas em Santa Cruz, o mais pobre bairro do Rio. Dona Nenê (In Memoriam) e sua família esforçavam-se para explicar às pessoas que aquele terreno valia mais do que o oferecido e valeria muito mais após a operação.

Não obtiveram sucesso. Seduzidos pelo pouco, porém fácil, dinheiro, os vizinhos negros migraram para a zona oeste. “Em alguns casos, alegava-se que era área de proteção ambiental e removia-se. Os antigos donos viravam as costas e eles começavam a construir prédios”, indigna-se Luiz, líder do quilombo.

A comunidade ocupa hoje cerca de 30 mil m², o equivalente a três campos de futebol. Estima-se que cada metro quadrado valha, hoje, R$ 12 mil. O valor já suscitou a cobiça de todas as esferas de poder, públicas ou privadas, e a repressão assumiu inúmeras formas.

A comunidade já sofreu quatro ordens de despejo, uma privada, uma estadual e duas municipais, a última na segunda gestão de Cesar Maia (2001-2009). Antes, a prefeitura de Luís Paulo Conde criou, em 2000, o parque José Guilherme Melchior sobre boa parte do quilombo urbano.

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